Se a MTV vai acabar mesmo a gente ainda não sabe, mas se isso acontecer, boa parte da culpa será pela insistência do canal em funcionar para meia dúzia de pessoas. Na noite desta quinta-feira (20), a emissora mostrou um lado esquizofrênico muito forte, colocando de um lado artistas desconhecidos do grande público, como Teatro Mágico, e abraçando o lado oposto com Gaby Amarantos.
Mais do que nunca, na premiação deste ano, a MTV deixou claro que quer mesmo ser um clubinho de bandas e gente descoladinha. É um canal feito de amigos para amigos. Qualquer um que subisse ao palco e fosse levemente fora da turma, levava vaias na hora. Isso aconteceu com os sertanejos João Lucas & Marcelo (de Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha) e até com o Restart. Aliás, a banda de rock ganhou pontos por dizer “pode vaiar mesmo”, ou algo assim. Deveria ser aplaudida. Quanto à dupla, não dá nem para entender porque é que foi convidada.
Semana passada, a MTV divulgou um comunicado explicando os motivos de não ter artistas sertanejos em sua premiação ou mesmo no canal. Para a emissora, gente como Luan Santana, Michel Teló, Gusttavo Lima e Paula Fernandes são irrelevantes para seu público formado por jovens urbanos dos 12 aos 34 anos. Pode até ser que isso aconteça com uma parte de quem assista à MTV, mas não é regra de jeito nenhum. O público jovem e urbano ouve sim o novo sertanejo, goste-se da música ou não. O sertanejo é o pop brasileiro que atinge milhões de pessoas, lota estádios e que as pessoas cantam e assobiam nas ruas de São Paulo, Rio, Porto Alegre e outras capitais. Ignorar esse segmento é o mesmo erro que a MTV americana cometeu, por exemplo, ao tentar deixar de lado Michael Jackson com Thriller. A música só entrou no canal, majoritariamente feito por artistas brancos, por pressão popular. Acontece o mesmo agora aqui no Brasil, só que com os sertanejos.
E outra: por que o canal decidiu abraçar Gaby Amarantos e não os sertanejos? É estranho, já que a cantora também representa esse Brasil novo do qual fazem parte Gusttavo Lima e Paula Fernandes. Se ela pode, os outros também deveriam poder, certo?
A MTV não precisaria criar um prêmio de “melhor artista sertanejo” ou “melhor música sertaneja” do ano. Poderia apenas colocar os cantores e seus trabalhos dentro das categorias já existentes. Assim, não teríamos aberrações como Vanguart concorrendo como artista do ano e as ausências de Ai, Se Eu Te Pego — hit planetário, goste-se ou não — fora da lista de hit do ano. Simplesmente não faz sentido.
O canal decidiu que quer mesmo conversar com um grupinho ínfimo de pessoas, quando poderia mostrar Michel Teló e companhia do seu próprio jeito, à maneira MTV. Depois do estrago, não vale mais reclamar.
Antes de terminar: os pontos altos da festa foram o Restart ironizando as vaias, Tata Werneck e João Lucas & Marcelo cantando Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha com o Detonator. E foi isso.
Parecer do crítico Odair Braz Junior do portal R7
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